Francês
Vocabulando: 5 expressões zoológicas em francês
Gosta de animais e está aprendendo francês? Então você tem que conhecer essa lista com 5 expressões idiomáticas zoológicas em francês que preparamos para você.
Vai me dizer que você nunca ganhou uma tartaruguinha, uma cacatua ou um pintinho vendidos em feiras livres?
Pois então, esta série foi pensada especialmente pra ajudar aqueles brazucas que adoram bichinhos e que, ao mesmo tempo, querem conhecer mais expressões idiomáticas da língua francesa.
1. « Une hirondelle ne fait pas le printemps »
As andorinhas não estão nem aí para os nossos provérbios, mas este aqui aparece em muitas línguas: “Uma andorinha não faz a primavera“, ou numa versão mais brasileira, “uma andorinha não faz verão“.
Quer sapiência? TOMA!
As andorinhas, que de bobas não têm nada, assim que bate o primeiro vento fresco anunciando que o inverno tá na espreita, arrumam as malas e batem as asas pra Flórida, pra Morro de São Paulo, pro Caribe. Afinal, têm que manter a marquinha.
E quando nestes lugares chega a primeira brisa levantando areia e barracas de praia, “ops”, tá na hora de refazer as malas pra volta.
– Mas inquebrantável e erudito Mestre, porque a expressão fala de primavera?
Simples. A palavra ‘primavera’ vem do latim “primus tempus“, “primeiro tempo”, designando a primeira estação do ano, exatamente aquela na qual as andorinhas dão as caras, ou melhor, as asas.
Pra resumir, aonde as andorinhas chegam, vai começar a party; de onde elas saem, a balada tá no final. Mas nesta regra há dois furos:
- Tem andorinho esposo que se apoquenta com a andorinha esposa que quer ficar o dia todo bronzeando as penas. Como todo ciumento é um ser essencialmente frágil, o andorinho fica com raivinha e diz que vai embora, voltando pra casa mais cedo do que deveria. Ou seja, antes mesmo da primavera.
- O simples fato da chegada oficial da primavera não significa que as condições climáticas são necessariamente as específicas da estação. Tem lugar que o céu e a temperatura literalmente ‘excretam e caminham’ pra primavera. Sentiu que foi poético, né?
Quer dizer, nestas duas situações o ditado não bateria, daí o seu uso como uma metáfora educativa com uma quádrupla conotação:
- Não se deve tirar conclusões precipitadas quando conhecemos apenas um lado da história ou de um fato.
- Não devemos nos basear apenas nas aparências.
- Uma única pessoa não é suficiente para alcançar um grande objetivo.
- Não se pode confiar numa andorinha.
Sinônimos em português: não devemos considerar ‘o todo’ somente por uma de suas ‘partes’; uma pessoa sozinha não faz nada.
Sinônimos em francês: il ne faut pas tirer de conclusion à partir d’un fait ou d’un élément unique; il ne faut rien conclure d’un seul signe. il ne faut pas se fier seulement aux apparences; une seule personne ne suffit pas pour réaliser un but d’envergure.
2. « Avoir des araignées dans le plafond »
Ao pé da letra, seria “ter aranhas no teto“. Então chame a Insetisan! Piada de Tio do Pavê dos anos 1980!
A expressão quer dizer alguém que tem um parafuso a menos, os miolos moles ou as idéias fora do lugar (como o autor desse artigo). Atualmente, fala-se que alguém é ou está fora da casinha. Bom, no final dá tudo no mesmo.
Há uma versão tipicamente québequense : Avoir des bibittes dans la tête.
Não sabe o que é bibittes (bébitte, bebite, bébite)? É qualquer inseto, de barata voadora bombada no Whey Protein à formiga de açúcar, passando por besouro, percevejo, pernilongo etc.
Sinônimos em Português: ser desmiolado; ser meio abestado.
Sinônimos em Francês: avoir un côté farfelu; n’avoir pas un comportement normal; être un peu dérangé.
3. « (Être) Une punaise de sacristie »
Pra quem não sabe, punaise tem dois significados distintos:
- Nome dado a um tipo de inseto que, embora pequeno, quando assustado ou morto solta um cheiro pútrido de mistura de chorume, césio e salada de repolho com ovo estragado, sabe como? Não, não é o fede-fede, punaise é o nosso famoso percevejo.
- Nome dado àquela tachinha que usamos pra fixar em quadros de cortiça bilhetes e memorandos do chefe que ninguém lê. Ou seja, novamente o nosso querido percevejo.
Bom, ‘sacristie‘ é sacristia.
Na verdade, ‘une punaise de sacristie’ é uma adaptação québequense pra uma expressão tipicamente francesa (leia-se, da França): grenouille de bénitier.
Bénetier é aquela pia onde se coloca água benta e que fica na entrada das igrejas católicas. Os fiéis, ao passarem por ela, molham as pontas dos dedos se benzendo com o sinal da cruz. Procurei muito, mas não achei em português uma palavra específica pra esta pia. Se você souber, mande pra gente nos comentários, belê?
E a perereca (grenouille), coitada, o que tem a ver com tudo isso?
Pra resumir a história, algum fiel piadista resolveu esculpir o tal do anfíbio no meio do bénetier da Eglise Saint-Paul de Narbonne, também chamada de Basilique Saint-Paul ou ainda La collégiale Saint-Paul-Serge, localizada na cidade de Narbonne, na França. Detalhe: esta igreja é de 1.180 dC.
A ideia por trás desta locução é a seguinte. Aqueles que passam o seu tempo perto do bénetier estão ali tão confortável e permanentemente instalados quanto uma grenouille em seu lago. Quer dizer, se sentem tão em casa que falam o que querem e o que não querem.
Direto ao ponto? ‘Une punaise de sacristie‘ é uma pessoa que se faz passar por gente fina, boa praça, santinha, mas que não é nada daquilo. Pronto, falei!
Sinônimos em português: pessoa carola; beato; papa-missa; papa-hóstia; pessoa devota; mexeriqueira; fofoqueira; faladeira, falsa; falseane; X9; língua grande.
Sinônimos em francês: quelqu’un qui manifeste une grande dévotion; qui passe beaucoup de temps à l’église; qui pratique la religion de manière ostensible et parfois intransigeante; qui fréquente les églises sans vraiment pratiquer la charité; un-e bigot-e.
4. « Caller l’orignal »
“Caller” é um ótimo anglicismo. Vem do verbo “to call“, que significa chamar.
“Orignal” (lê-se “orrinhal“) é um tipo de alce fisiculturista muito comum no Canadá.
Agora vamos à mundana origem da expressão. Pra isso, precisarei de sua fértil imaginação:
Você é um viril e corajoso chasseur québécois (caçador québequense).
Armado até os dentes com seu fuzil lustrado com óleo de érable, se embrenha na mata com seus companheiros de caça. Porém, nada do orignal dar o ar dos seus chifres. Sim, além de bombado na creatina o bicho ainda tem chifres de Itu.
Um dos caçadores, impaciente, resolve então imitar o som do bicho:
– Uhummm…Uhummm…Uhummm
E não é que dá certo? Carne garantida pro resto do inverno.
Mas é claro que o sentido figurado de caller l’orignal não é o de imitar o som do animal, né?
Caller l’orignal é um québecismo para aquelas noites bem arrosées quando não satisfeito de encher o pote de bière, você resolve ir além, misturando vodka russa, camarão no espetinho e Pitú. Tinha que dar errado.
Chapado, sai catando cavaco até vomitar.
– Urgoufsd…hargue…blurgh…Uhummm…Uhummm…Uhum
Pois então, o grunhido selvagem que sai de sua boca pútrida na hora de botar os bofes pra fora é muito parecido com o feito pelos caçadores imitando o bramido do tal cervo canadense. Daí, a expressão: caller l’orignal.
Seria o nosso famoso “chamar o Raul“.
Sinônimos em português: chamar o Hugo; golfar; gorfar; botar os bofes pra fora; regar o pão de queijo; botar a alma pra fora; vomitar as tripas.
Sinônimos em francês: Vomir; vomir bruyamment; régurgiter; dégueuler; avoir dans le nez; restituer; renvoyer; vomir tripes et boyaux ou rendre tripes et boyaux; pleumer son renard.
5. « À cheval donné on ne regarde pas les dents »
Chega o Natal, e com ele a Simone e o Show do Rei. Pra não fugir às tradições familiares, ceia na casa da mãe da sua sogra – vai vendo.
E claro, Natal em família sem amigo oculto é o mesmo que cerveja sem álcool.
O sorteio é marcado pra uma videoconferência, mas sabe como é o conflito intergeracional – até todos conseguirem entrar na sala, a tia surda só grita, o tiozão conta suas piadas estilo ‘pavê’ pra todo mundo que entra, a neta blogueirinha fica ajeitando o cabelo e fazendo selfie, o primo estressado tenta explicar pro sogro que Zoom não é o da máquina fotográfica, enfim… amigo oculto do século XXI.
Lá vem o sorteio. O próprio nome já diz tudo: sorte, mas pelo jeito ela não estava do seu lado. Você tira logo quem? quem? quem?
A sogra.
– E agora, o que dar pra ela? É a avó dos meus filhos!, pensa você.
Plim, imediatamente acende uma luz na escuridão:
– Ela foi aposentada como auxiliar de tosagem em petshop e adora animaizinhos. Hummm, já sei, vai ganhar um de presente: uma cobra!
Cobra é o nome de uma potra que você ganhara de seu pai como presente de 15 anos, isso nos idos anos de 1989. A mesma cavala, era na verdade, uma herança que seu bisavô deixara pro seu avô e este pro seu pai…. Ou seja, é mais velha do que o Sílvio Santos. ‘
A cobra ‘highlander‘, com tantos anos no lombo, inevitavelmente tem dentes bemmmmmm desgastados e bemmmmmm amarelados, isso sem contar os vários perdidos ao longo dos séculos de galope.
Bom, não precisa ser muito sagaz pra adivinhar que a primeira coisa que a sogra vai fazer ao receber este cadeau, será olhar a boca da égua. Bom, logo se dará conta que o seu querido genro tá mais interessado em se livrar de ambos os Matusaléns, da quadrúpede equídea e da bípede sapiens. Mas, mas, mas…é presente, né? Não pode negar nem devolver.
– À cheval donné on ne regarde pas les dents!
Traduzindo: Cavalo dado não se olha os dentes!
A lógica do ditado é a seguinte: se o cavalo (ou uma coisa qualquer) te foi afetuosamente presenteado (portanto 0800), é melhor não olhar os seus dentes (no caso, para o preço, a origem ou a qualidade daquela coisa) pra não constranger quem deu (na nossa história, o genro).
Sinônimos em português: ao recebermos um presente, devemos mostrar satisfação mesmo que não seja do nosso agrado; a maneira como você dá conta mais do que o que você dá; o que importa em um presente é mais ter pensado na pessoa do que na coisa dada.
Sinônimos em francês: Il ne faut pas se montrer difficile quand on reçoit un cadeau; la façon de donner vaut mieux (ça compte plus) que ce qu’on donne; ce qui importe dans un don, c’est plus d’avoir pensé à la personne qu’à la chose donnée.