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História

Qual é a origem do slogan “Je me souviens” de Québec?

Ao chegar na cidade de Québec, as placas dos carros estão com a frase: “Je me souviens”. Qual é a origem dessa frase?

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Ao chegar na cidade de Québec (Quebeque), Canadá, por onde quer que você olhe nas ruas, as placas dos carros matriculados em Québec estão com uma frase: “Je me souviens”, ou, “eu me lembro”, em português. Qual é a origem dessa frase?

Confusão

Tal como naquela velha piada judaica, se você perguntar para três québecois (canadenses nascidos na província de Québec) diferentes sobre a origem dessa frase e seu significado, você terá quatro respostas diferentes. Alguns dizem que tem a ver com a batalha nas planícies de Abraão (Bataille des Plaines d’Abraham), em 1759. Outros falam que tem a ver com o plebiscito para a separação de Québec do Canadá, em 1995. Será?

Como nesses dois casos, a maioria das respostas tendem a dizer que o “Je me souviens” é revanchista, tem um sentimento de vingança, raiva, rancor. Rancor dos “ingleses” (ou da parte inglesa), por terem tomado Québec à força dos Franceses. Mas isso é lenda. Essa não é a origem da frase.

A origem e o significado

A origem da frase remonta ao final dos anos 1800 e a construção do Parlamento de Québec (ou Assembleia Nacional de Québec, Assemblée National du Québec). E é lá que encontramos a frase “Je me souviens”, no escudo/brasão da cidade, entalhado acima da porta principal do edifício.

Slogan “Je me souviens” entalhado acima da porta principal do parlamento ou “Assemblée National du Québec”.

O arquiteto da Assembleia Nacional de Québec, Eugène-Étienne Taché, é quem criou a frase e mandou esculpi-la no brasão. Eugène não deixou um documento explicando explicitamente o sentido da frase, o que fez com que, com o passar das décadas, lendas urbanas fossem surgindo.

Eugène-Etienne Taché, arquiteto do parlamento/assemleia nacional de Québec.

No entanto, sabemos que, ao projetar a fachada da Assemleia Nacional, Eugène queria fazer algo parecido ao Panteão de Paris, França. É por isso que a fachada está recheada de estátuas de personagens famosos da história da província. O objetivo da fachada era honrar a memória daqueles que fizeram de Québec o que é hoje. O objetivo era que, quem passasse por lá, se lembrasse de sua história. Daí o porquê do “Je me souviens” – “eu me lembro” da minha história, “eu me lembro” dos que fizeram parte dela.

Fachada do parlamento, com destaque para as várias estátuas e o emblema “Je me Souviens”. Foto tirada em Fevereiro de 2020. Arquivo pessoal.
A fachada da Assembleia Nacional no inverno. Foto tirada em Fevereiro de 2020. Arquivo pessoal.

Uma lenda urbana – Lys vs Rosa

Nos anos 1970 o slogan “Je me souviens” substituiu o slogan turístico “La belle province“, nas placas de carro de Québec. E é aí que mais e mais teorias sobre a origem e o significado da frase foram surgindo.

A neta de Taché publicou uma carta aberta no jornal “Montréal Star” (não existe mais), em 1978, dizendo que “Je me souviens” era na verdade parte de um poema mais longo: “Je me souviens que né sous le lys, je croîs sous la rose” (“eu me lembro que nascido sob a flor de Lys, eu cresço sob a Rosa”). Segundo ela, Taché queria, com essa frase, mostrar a união dos dois povos que transformaram Québec no que é. Isso porquê a Flor de Lys era símbolo da monarquia Francesa, enquanto a rosa era símbolo na monarquia Inglesa.

No entanto, sabe-se hoje que este trecho de poema era, na verdade, um outro slogan, que não tinha a ver com a fachada do parlamento. Era, na verdade, um poema para ser entalhado em uma outra estátua de Taché, estátua essa para a comemoração dos 300 anos da fundação de Québec, em 1908. A estátua acabou não sendo feita e a frase foi parar em moedas comemorativas. Veja a imagem abaixo.

Moedas comemorativas para os 300 anos da fundação de Québec. Na direita, vê-se nas laterais: “Née sous les lis, grandis sous les roses“. A frase original estava no singular mas foi posta no plural na moeda.

Resumindo

Resumindo, a história da frase “Je me souviens” é simples – uma iniciativa individual do arquiteto da Assembleia Nacional de Québec. Ele simplesmente estava convidando a todos que vissem o parlamento a se lembrar de sua história e daqueles que a fizeram.

Fontes e Referências

William é brasileiro, nascido na cidade de Feliz, no interior do Rio Grande do Sul. Mora em Québec desde 2019 e é um aficcionado por história. Com formação na área de tecnologia e de línguas antigas, é o apresentador do canal Québec em Foco no YouTube e também do Café com História do podcast Conexão Québec.

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