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História

Descubra os Segredos de Québec: O Castelo Saint-Louis

Explore o sítio arqueológico escondido sob o Terrasse Dufferin em Québec! Descubra as ruínas dos fortes e castelos de Saint-Louis, conheça a história colonial canadense e visite o icônico Château Frontenac.

Jonas Moura

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Gravura representando os planos de Lord Dufferin para a preservação dos monumentos históricos. Nela, pode-se ver o projeto para um novo Château Saint-Louis no local onde hoje se encontra o atual Château Frontenac. Esta imagem foi extraída do jornal Canadian Illustrated News.
Gravura representando os planos de Lord Dufferin para a preservação dos monumentos históricos. Nela, pode-se ver o projeto para um novo Château Saint-Louis no local onde hoje se encontra o atual Château Frontenac. Esta imagem foi extraída do jornal Canadian Illustrated News. Com a Permissão de Reprodução dos Arquivos Públicos da Prefeitura da Cidade de Québec (Archives de la Ville de Québec). N009269.

Escondida sob o Terraço de Dufferin, uma cripta arqueológica revela os castelos e fortes que foram sede do poder das coroas francesa e inglesa entre 1620 e 1834.

Você sabia que, em Québec, existe um sítio arqueológico sob o Terrasse Dufferin que preserva vestígios dos primeiros fortes e châteaux Saint-Louis? Sim! Atualmente, o terraço faz parte das construções que marcaram um período de intensos conflitos e disputas históricas entre franceses e ingleses. Além de oferecer uma bela vista panorâmica para o rio Saint-Laurent, ele está situado ao lado do famoso Château Frontenac, outro ícone arquitetônico e cartão-postal da cidade. Este castelo ilustra não apenas a evolução da arquitetura local, mas também a preservação dos importantes símbolos da fundação do Canadá.

Mapa mostrando o Fort St. Louis em 25 de outubro de 1683. Por Jean-Baptiste-Louis Franquelin – [1], Domínio Público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=28283598

Durante 200 anos, os antigos fortes e castelos de Saint-Louis serviram como sede de governo e residência oficial de autoridades francesas e inglesas. Desde 1985, o local faz parte da lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO e, em 2001, foi oficialmente reconhecido pelo Conselho de Sítios e Monumentos Históricos do Canadá.

Os Fortes de Saint-Louis

Mandei arrastar a madeira para o forte pela neve, conforme o tempo mais limpo permitia. Os selvagens nos deram um pequeno impulso que nos fez muito bem, especialmente porque no inverno não temos refrescos, tendo apenas as conveniências que vêm da França…

Samuel de Champlain, Récits de voyages en Nouvelle-France

De acordo com relatos de Champlain em Récits de voyages en Nouvelle-France (1603-1632), em 1620 ele utilizou apenas madeira para construir as primeiras estruturas do forte de Saint-Louis, no topo do Cap Diamant. Seis anos depois, reforçou as instalações usando madeira e terra, com o objetivo de proteger a Nova França contra invasões inimigas.

Charles Huault de Montmagny, primeiro governador oficial da Nova França, deu continuidade à obra. Entre 1636 e 1660, ampliou o forte, substituindo parte das muralhas de terra por alvenaria.

Em 1648, Montmagny também construiu o primeiro Château Saint-Louis, demolindo a casa de Champlain para erguer um edifício de 28 metros de comprimento por 8 metros de largura, com terraço para acomodar convidados e dignitários.

Os Castelos de Montmagny, Frontenac e Haldimand

Apesar das melhorias feitas por Montmagny, o château apresentava sinais de desgaste. Louis de Buade de Frontenac, então governador, assumiu a reconstrução. Após a ameaça de invasão pelo almirante inglês Phips em 1692, Frontenac construiu o quarto forte de Saint-Louis e reformou o château em 1694, acrescentando um novo pavilhão, duas alas e um telhado de ardósia — transformando-o em um esplêndido exemplo da arquitetura francesa do século XVII.

O forte de Saint-Louis, contudo, manteve-se praticamente inalterado até 1759, quando o exército britânico sitiou Québec. De 1680 até o fim da dominação francesa, o forte abrigou uma guarnição de 25 homens e a guarda do governador.

Fotografia de um desenho feito do Château Saint-Louis (Château Haldimand) em 1804, feita por William Morris. Com a Permissão de Reprodução dos Arquivos Públicos da Prefeitura da Cidade de Québec (Archives de la Ville de Québec). N031184.

Em 1762, o governador britânico James Murray considerou o forte militarmente obsoleto. Após novos ataques, apenas parte do château de Frontenac foi reparada. A reconstrução do terraço com vista para o Saint-Laurent só aconteceu em 1777.

Entre 1784 e 1786/7, o governador Frederick Haldimand reconstruiu o Château Saint-Louis e ampliou os edifícios na Place d’Armes. O novo château (que por vezes é conhecido como Château Haldimand), de três andares em formato de “Y”, foi usado para fins administrativos. Entre 1786 e 1791 ele foi a sede do governo colonial na Província de Québec. Esse último castelo foi usado até 1834, quando um incêndio o destruiu.

O Château Haldimand (aqui chamado de Castelo de Saint Louis) antes do incêndio. Gravura de Robert Auchmuty Sproule (1799–1845) baseada em um original de W.S. Sewell – Hawkins’s Picture of Quebec; with Historical Recollections de Alfred Hawkins (c. 1802–1854) e John Charlton Fisher (falecido em 1849). Québec: impresso para o proprietário por Neilson & Cowan, 1834, entre as páginas 128 e 129. Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=53549783

École Normale Laval

Após a destruição do Château Saint-Louis em 1834, parte da área que antes abrigava o castelo foi reutilizada para fins educacionais. Em 1857, foi construída ali a École Normale Laval, uma escola de formação de professores, pioneira na educação pública da província de Québec.

O projeto fazia parte de uma iniciativa para melhorar o sistema de ensino da colônia, formando docentes qualificados para as escolas católicas francófonas. A Escola Normal funcionou no local até o final do século XIX, quando foi demolida para dar lugar ao hotel mais fotografado do mundo – o Château Frontenac.

Nnegativo representando uma vista da Place d’Armes e da École Normal Laval em Québec. Esta imagem foi extraída do relatório Projeto de Urbanismo de Québec e sua Região de J. Gréber, Edouard Fiset e Roland Bédard, publicado em 1956. Com a Permissão de Reprodução dos Arquivos Públicos da Prefeitura da Cidade de Québec (Archives de la Ville de Québec). N021685.
Castelo Frontenac e o Terrasso Dufferin
Castelo Frontenac e o Terrasso Dufferin. Por Envato Elements. Todos os direitos reservados.

Os Terraços de Durham e Dufferin

Após o incêndio de 1834, Lord Durham, então governador, propôs a construção do primeiro terraço — o Terrasse Durham — com cerca de 50 metros de comprimento. Em 1854, ele foi estendido em direção à cidade.

Em 1870, Lord Dufferin, defensor da preservação dos fortes de Québec, apresentou um projeto de ampliação ainda maior (veja a imagem de capa deste artigo). O Terrasse Dufferin foi concluído em 1879, expandindo-se por mais de 300 metros e conectando a Cidade Alta e a Cidade Baixa por meio de um sistema ferroviário.

Os Jardins de Saint-Louis

Fontes históricas indicam que o primeiro jardim do forte foi criado por Montmagny em 1648. Com 86m x 75m, o espaço funcionava como horta e área de descanso. No século XVIII, ganhou trilhas sinuosas e muitas árvores, em estilo inglês.

Em 1753, foi construído um muro de pedra ao redor do jardim. Posteriormente, em 1820, um monumento foi erguido para homenagear a batalha entre Wolfe e Montcalm. Em 1838, o jardim foi aberto ao público e, em 1933, transformado em parque urbano.

Haldimand também criou um segundo jardim entre o penhasco e a Rue des Carrières, destinado a hortas e plantações de morangos. Posteriormente, tornou-se um jardim botânico da Escola Normal de Laval, mas desapareceu após a criação de novos terraços.

Um Tesouro de Vestígios e Memórias

Entre 2005 e 2007, escavações arqueológicas revelaram cerca de 500 mil artefatos e 500 vestígios arquitetônicos nas ruínas dos fortes de Saint-Louis. Itens como talheres, roupas, móveis e utensílios de cozinha ajudaram a reconstruir o cotidiano dos antigos moradores.

A foto mostra as ruínas expostas sob o atual Terrasse Dufferin, durante as escavações realizadas entre 2005 e 2007. Por Local hero – Obra própria, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7661813.

Hoje, protegidas por cúpulas de vidro sob o Terrasse Dufferin, essas ruínas contam a história das glórias e derrotas coloniais de Québec.

Perto dali, o Château Frontenac, finalizado em 1893 e expandido ao longo dos anos, é o castelo-hotel mais fotografado do mundo — e uma parada obrigatória para quem deseja conhecer de perto a história do Canadá.


Notas:

¹ Site do Gouvernement du Canada.
² Janelas características da arquitetura renascentista, compostas por três seções, sendo a central maior e em arco.
³ Site do Gouvernement du Canada.
⁴ Página oficial da Ville de Québec.

Fontes e Referências Bibliográficas:



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Jonas Moura é brasileiro, nascido em Recife, Pernambuco. Formado em Comunicação Social e graduando em História, atualmente, mora na capital do Rio de Janeiro. Além de jornalista, é autor do livro “Havana Viva” e roteirista. Escreve para registrar em palavras o mundo ao seu redor.

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