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Saúde & Bem-Estar

O Brasil é ruim, mas é bom; morar fora é bom, mas é ruim

Não raro, quando queremos muito imigrar para outro país, as comparações com nosso país de origem vem a tona. Confira o relato da Pâmela Claro, psicóloga especialista em imigração, sobre o seu próprio processo de imigração para o exterior.

Pamella Callegari Claro

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A frase parece ambígua, né? Mas ela me diz tanto que fico aqui pensando: será que os imigrantes se sentem assim também em relação ao Brasil?

É um sentimento estranho, diria que é um mix, pois quando deixei o Brasil, estava ‘certa’ de fazer a coisa ‘certa’ (a repetição é pra você ver o quanto eu tinha ‘certeza’). Jamais me passou pela cabeça que um dia sentiria falta de lá.

No início, as comparações eram inevitáveis e o Brasil perdia de muito, quase um 7 x 1. Eu só conseguia ver as coisas boas do Canadá, como a segurança, a limpeza, a educação das pessoas, o transporte público etc. Só que com o passar do tempo (e já estabilizada neste novo mundo) essas comparações se inverteram.

O Brasil tem lá os seus problemas, claro, mas o acolhimento, o carinho dos amigos e da família, o clima e a beleza do país nos faz sentir saudade, muita saudade. Depois de um certo tempo morando fora, passei a valorizar as pequenas coisas que morando no Brasil não enxergava mais. Quem vive dentro da caixa, só enxerga dentro da caixa, não é mesmo?

As reuniões chatas de família passam a fazer falta:

Ah, Pam, até que elas eram bem divertidas, vai, admita!

E aqueles happy hours do trabalho que dava tudo para não ir de tão cansada que estava? Ah, que faltam me fazem! Como era bom dar uma relaxada antes de ir para casa… E passar as festas de Fim de Ano em família? Deus me livre! Uma lavação de roupa suja, todo mundo brigando com todo mundo o ano inteiro e no Natal, a paz da falsidade: “Então é Natal, … O ano termina, e começa outra vez…” (Simone cantando em coro com os meus neurônios). Pois é, hoje, pago a passagem pelo valor que for para estar ao lado deles, nem que seja pra apartar as voadoras.

Você percebe que o Brasil não é tão ruim assim. Viver no exterior é maravilhoso, as oportunidades são imensas, você conquista coisas incríveis, mas sempre falta algo. E esse ‘algo’ é aquele bate-volta da praia com os amigos; o calor ensolarado do Brasil; a família para ficar pegando no pé ou controlar a que horas cheguei da balada; a mãe perguntando se comi: “Filha você tem que se alimentar melhor”. Ai, que vontade daquela comidinha de “mãe”, do abraço apertado dos amigos, das festas, dos shows que só o Brasil sabe fazer. Nossa, brasileiro é um povo que sabe se divertir e às vezes com tão pouco!

E olhe que coisa esquisita. Quando vou visitar o Brasil, na volta tenho uma ‘certa’ dificuldade em me ‘(re)readaptar’. Apesar de sentir falta da minha casa e de minha vida no Canadá, bate aquela coisa de querer ficar, ao mesmo tempo em que não me vejo mais morando lá. Mas sinto que não são apenas os objetos que consigo carregar ou as pessoas que me fazem falta, é também o clima, o aconchego, o ambiente, as praias, as montanhas, a paisagem, o sol… É um mix de sentimentos batido no liquidificador da saudade. Para nós, imigrantes, haverá sempre um vazio que só a brasilidade pode preencher.

Então, “morar fora é bom, mas é ruim“. Apesar de todas as oportunidades, estar longe de quem amamos é doloroso. Perdemos pessoas e não podemos sequer voltar para nos despedir, deixamos de viver a velhice dos nossos pais, não acompanhamos nossos sobrinhos crescerem.

Perdemos pessoas e não podemos sequer voltar para nos despedir, deixamos de viver a velhice dos nossos pais, não acompanhamos nossos sobrinhos crescerem

E durante a pandemia? Tivemos que nos isolar, não raro sozinhos, enquanto nossa família estava, de um jeito ou de outro, unida.

O Canadá também tem as suas belezas, mas na maior parte do ano o clima é frio, as pessoas são mais fechadas, focam no trabalho x casa x trabalho, não são tão festeiras como nós, Brazucas. Aliás, a nossa energia é algo que se destaca por aqui.

E todos os anos esta ladainha se repete, como se fosse aquele filme do dia da marmota, no qual acordamos como se fosse o ontem se repetindo. E lá vêm os questionamentos de sempre. Vida de imigrante não é fácil!

E você caro(a) leitor(a), está mais pra concordar ou pra discordar da frase: o Brasil é ruim mas é bom, morar fora é bom mas é ruim?

Deixe sua opinião aqui nos comentários. Será um prazer conversar contigo.

Gostou do Artigo da Pamella?

A Pam é psicóloga especialista em imigração. Quer ler outros artigos dela? Clica aqui. Você também pode segui-la no Insta @pamclaropsico.

Sou uma Psicóloga viajante, imigrante no Polo Norte Meu propósito? Ajudar outros imigrantes a manter a saúde mental longe de casa! Sonhos? Embrenhar-me mundo e culturas afora. Defeitos? Se nem a Psicologia é perfeita, Claro que eu também não sou. Mas tenho muitas qualidades, viu? Meu lema, ou dilema, de vida? Viva o Agora! Que tal um 'papo cabeça' degustando um café quentinho? É por minha conta!

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5 Comments

5 Comments

  1. Avatar

    andre zarmati

    22/02/2022 at 10:20

    Oi Pamela, legal teu artigo, que mostra simplesmente seu ponto de vista poessoal, claro e entendo que voce nao quer g os 5eneralizar, cada um de nos tem um comportamento em relacao a imigrar pra fora do Brasil.
    Pois bem, eu imigrei pro Canada, mais especificamente em Montreal ha 33 anos atraz, chorei pra Kcete 5 primeiros anos aqui, louco pra voltar e nao consegui, afinal tinha liquidado tudo la e o pior que meu filho era altamente asmatico e a poluicao de Sao Paulo pioravam as condicoes de saude desta crianca.Incrivel, mas a partir do momento queesse menino pisou aqui, nunca mais teve crises asmaticas. Hoje, um homem feito, casado formado na McGil, acho que nao se lembra mais que tece asma.
    Eu tentei voltar pro Brasil em definitivo em 2013,mas a minha aventura durou pouco mais de 1 ano, sabe patricia como eu me sentia?Um estranho no ninho, e no meu proprio pais. Tudo era dificil, simplesmeente tudo, inseguranca, educacao do povo, transporte,transito dia e noite e o pior fiquei doente logo que cheguei e o diagnostico foi “Doenca do Viajante”, por causa da agua, e por ai vai.Bom cheguei na conclusao que passados 24 anos morando fora foi impossivel me readaptar no meu proprio pais, fiz as malas e voltei, e por aqui estou com todas as facilidades e com toddas as dificuldades que enfrentamos no dia a dia aqui no Canada, nao vejo outra alternativa que te dizer que aqui e o meu lugar
    Abs

    • Pamella Callegari Claro

      Pamella Callegari Claro

      22/02/2022 at 14:20

      Olá André, muito legal a sua história, e é assim mesmo depois de um tempo nos adaptamos tanto ao novo país que o retorno ao Brasil passa a ser complicado. Recomendo ler o meu outro artigo divulgado aqui sobre a Síndrome do Regresso, você vai se identificar, faz referência a esse sentimento que você teve quando voltou ao Brasil por um ano!

      • Avatar

        Laura Pederzolli Cavalheiro

        30/05/2022 at 02:35

        Para começo de conversa: o Brasil não é um pais ruim para se viver.
        Eu morei em Montreal, conclui o ensino secundário lá. Poderia ter voltado e com as minhas notas ter seguido os estudos, mas eu preferi seguir vivendo no meu pais.

  2. Avatar

    Laura Pederzolli Cavalheiro

    30/05/2022 at 02:37

    Para começo de conversa: o Brasil não é um pais ruim para se viver.
    Eu morei em Montreal, conclui o ensino secundário lá. Poderia ter voltado e com as minhas notas ter seguido os estudos, mas eu preferi seguir vivendo no meu pais.

  3. Avatar

    Alan Santana

    19/07/2022 at 20:54

    Viralatismo meu pai. Denunciando!!!

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