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Saúde & Bem-Estar

As 4 fases da adaptação no exterior

A vida no exterior pode ser mais fácil para alguns do que para outros. Em geral, enfrentamos 4 fases de adaptação. Quer saber quais são?

Pamella Callegari Claro

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Adaptação a viver no Exterior

Quando saí do Brasil, estava numa fase bem revoltada com o país, com a corrupção, a violência e com tudo o que nós passamos no dia a dia. Só que eu não imaginava que morar fora também me geraria um sofrimento – de um tipo diferente, é verdade, mas nem por isso menos doloroso. Nesse artigo sobre a adaptação à vida no exterior vou explicar um pouco sobre isso.

Na década de 50, o sociólogo norueguês Sverre Lysgaard divulgou um estudo sobre os estágios de quem passa a viver em uma nova cultura. Sua hipótese foi batizada de “U-Curve”, segundo o qual o processo de adaptação em um outro país possui 4 etapas:

  1. Lua de mel;
  2. Crise;
  3. Recuperação;
  4. Ajuste.

Hoje, depois de 5 anos morando no Canadá, consigo identificar claramente cada uma destas fases na minha própria jornada de imigração.

Lua de Mel

Montagem com a Pamella na neve em cima de um VLT. Embora passando frio, ela está dizendo que adora a neve. É a fase da lua de mel.

Quando cheguei no Canadá, tudo era lindo, não enxergava nenhum problema e meu pensamento era que qualquer lugar era melhor que o Brasil. Estava encantada com a limpeza de Toronto, com a educação dos canadenses e com a linda vida no exterior.

Seis meses depois, chegou o Natal. Neve, novos amigos – tudo era novidade; até mesmo não estar com a minha família naquele momento era o que eu mais queria. Cá pra nós, sempre achei chato Natal com a família.

O Ano Novo foi a oportunidade de viajar! Quando estava no Brasil, sempre sonhei em viajar. Mas desta vez estava sozinha, afinal, nem sempre tem alguém disponível para gastar os seus suados dólares com viagens.

No meu segundo ano de Canadá, fazia college na área de Recursos Humanos enquanto trabalhava como garçonete em eventos. Assim, podia montar meu próprio cronograma de trabalho conforme minhas possibilidades e prioridades.

Uaauu… que liberdade, emendava os feriados prolongados e podia viajar. Mas aquele ano, 2017, foi atípico e passei as festas de dezembro trabalhando, afinal, era a época de ganhar dinheiro. Depois, partia pra casa dos amigos brasileiros pra comer, beber e comemorar.. Ainda estava em êxtase com a vida no exterior, animada com as novidades que a nova cultura me apresentava. Nesse período, somos movidos pelas diversas oportunidades que vislumbramos no novo país. Era a minha fase de lua de mel.

Crise

Montagem que mostra a Pamela atolada de neve, do lado do carro e com um urso polar em cima do carro. Ela tá dizendo, em inglês, que ela Odeia Neve. E o Urso tá dizendo que ela tava estressada, na fase da crise.

O terceiro ano de Canadá (2018) começou a ser diferente, me fazendo repensar. Passei a sentir falta da energia que só o brasileiro tem, a odiar a neve e o frio, a ter raiva da vida de imigrante. Temos que provar nosso valor e status a todo momento, temos que provar que falamos inglês, que somos capazes, competentes.

Nesta época, estava procurando trabalho na área de RH. Hoje, recuando no tempo, vejo que estava no auge da fase da crise, que é marcada por algumas decepções e frustrações com o novo país que acabam gerando uma confusão de sentimentos. É quando sentimos o impacto do choque cultural e nos damos conta que nem tudo é perfeito. Comecei a pesquisar uma possível mudança para Portugal. Cheguei a participar de grupos de Brasileiros em Portugal para entender o processo de imigração.

Recuperação

Montagem de imagens que mostra a Pamela ganhando o Óscar. Além disso, várias celebridades com o fundador da Amazon, da Tesla, Sílvio Santos e a a Eterna Rainha Elizabeth estão elogiando a a Pâm.

Mas então…fui contratada! E como Especialista de RH! Uma oportunidade temporária, mas era minha chance de ganhar experiência e mostrar a que vim nesse Canadá. Foi o ano da minha formatura na Pós e minha mãe veio passar 1 mês comigo! Que delícia!

Chegava do trabalho e já tinha comidinha de mãe pronta e, mais ainda, a sua companhia. Quando ela voltou para o Brasil, foi o maior chororô, sentia como se o mundo estivesse arrancando minha mãe de mim – “meu Deus, que dor!” Mas eu tinha um propósito, foquei nele, me fortaleci e segui.

Alguns meses depois, fui efetivada no trabalho e ainda por cima a empresa se ofereceu para sponsorar minha Residência Permanente no Canadá. Uaauuu! De novo uma grande conquista,  mas as pessoas dirão que foi sorte, não é mesmo?

Aquele foi o meu Ano da Recuperação que, como o próprio nome sugere, é o estágio em que o indivíduo passa a olhar os altos e baixos de forma mais positiva, resiliente e confortável em relação à nova cultura. Foi quando comecei a perceber que o “plano Canadá” estava dando certo e tive a sensação de estar recuperando o controle dos meus sentimentos e de estar, finalmente, me adaptando à vida canadense.

Neste mesmo 2018, tive a oportunidade de ir ao Brasil e ficar com a minha família por 2 semanas – que sonho! E olhe que curioso: passei não apenas a querer visitar o Brasil ao menos uma vez por ano, mas sobretudo pra passar as festas de Natal e de Réveillon com a família.

Ajuste

Essa é mais uma foto do que uma montagem. É a Pâmela chegando no Brasil, cheia de malas, e encontrando a família dela. Sia mãe tá pensando: tanta mala? Tem que ter presente pra mim, isso sim!

Hoje, estou aqui, como uma legítima Residente Permanente, fazendo as malas para visitar o Brasil por 1 mês. Não serão exatamente férias, pois vou trabalhar online, mas mesmo querendo muito ir, vou com o coração apertado. Afinal de contas, gosto da minha vida canadense de hoje, minha rotina, meu trabalho, meu apartamento, minha liberdade e meus finais de semana com o namorado e enteado.

É um mix de sentimentos. É algo assim: quero ir, mas quero ficar! Fico feliz de estar com a minha família e amigos, mas fico triste de não poder levar comigo tudo que tenho aqui no Canadá. É bem provável que fique na casa dos meus pais, eles vão controlar meus horários, não terei muita liberdade e os planos deles basicamente serão os meus, e não poderia ser diferente, pois eles querem ficar comigo. De uma certa maneira é como me ver de volta no passado e ter contato com algo que não gosto e não quero mais.

Lembra das 4 fases de adaptação? Pois então, estou na do Ajuste, quando o indivíduo se sente integrado com a nova cultura a ponto de desempenhar tarefas que não parecem mais tão pesadas.

Conforme os estudos de Sverre Lysgaard, nesta fase pode ocorrer a “adoção de dupla identidade cultural”. É exatamente assim que me sinto: quando estou no Canadá, gostaria que as pessoas que amo no Brasil estivessem comigo; quando estou no Brasil acontece o inverso, que as pessoas e as coisas que tenho no Canadá estivessem no Brasil. Como digo, ser Imigrante é carregar um coração sempre divido entre duas culturas.

Ser imigrante é carregar um coração sempre dividido entre duas culturas

Pra fechar, nada como um legítimo mico de imigrante, só que ao contrário.

Como estou trabalhando online, falo inglês o tempo todo, inclusive com o meu namorado. Sinto uma dificuldade extrema de virar a chave do idioma e falar apenas o português, mesmo sendo a minha língua materna. Percebi isso quando pedi um Uber e comecei a falar inglês com o motorista. E com o entregador de comida? Eu falava em inglês sem me dar conta e ele me olhava como se eu fosse uma alienígena, ou pior, uma louca metida a besta. Que mico! Mas esses são sinais da real adaptação à nova cultura e à vida no exterior.


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A Pam é psicóloga especialista em imigração. Quer ler outros artigos dela? Clica aqui. Você também pode segui-la no Insta @pamclaropsico.

Sou uma Psicóloga viajante, imigrante no Polo Norte Meu propósito? Ajudar outros imigrantes a manter a saúde mental longe de casa! Sonhos? Embrenhar-me mundo e culturas afora. Defeitos? Se nem a Psicologia é perfeita, Claro que eu também não sou. Mas tenho muitas qualidades, viu? Meu lema, ou dilema, de vida? Viva o Agora! Que tal um 'papo cabeça' degustando um café quentinho? É por minha conta!

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3 Comments

3 Comments

  1. Avatar

    Mariana

    17/01/2022 at 12:50

    Que texto ! Me vi nele !

    • Fábio De Almeida

      Fábio De Almeida

      02/02/2022 at 19:06

      Acho que todo imigrante passa pelas mesmas fases, mas do jeito que somos criativos, provavlemente inventaremos outras, rsrs
      Obrigado pelo comentário.

  2. Pingback: Falar é o melhor remédio - Prevenção ao Suicídio no Québec

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